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Britney Spears está na capa da nova edição da Flaunt Magazine. A revista conseguiu uma entrevista com a cantora e, para além, de a ter revelado na íntegra, publicou algumas fotografias do ensaio. Clica em (…mais) para leres o artigo completo.
“É seguro?”– Laurence Olivier, Maratona da Morte (1976)
É um dia sem sombras, está calor, e Los Angeles está feia.
Uma velhinha caminha com cautela sob a luz intensa, curvada debaixo de um guarda-chuva barato. Durante a caminhada, arrasta um carrinho de mão cheio de mantimentos e roupas. Semelhantemente à pastilha de mastigar descartada no chão e mole novamente por conta do sol, os seus sapatos ortopédicos carregam pelo ar açucarados fios rosados da superfície da calçada. À medida que ela caminha para o teatro Bob Baker Marionette, não é tão difícil assim imaginar que ela é apenas um fantoche da cabeça para baixo indo trabalhar.
Do outro lado da rua, dentro de um camarim com ar-condicionado, Britney Spears inclina seu rosto para uma chama. Com um cigarro Marlboro Menthol nos seus lábios franzidos, ela leva o cigarro em direção ao fogo até que a ponta fique laranja. Ela inclina-se para trás e exala uma branca e mentolada nuvem que se dirige para a mini-cozinha e desaparece atrás do microondas não usado. A sua mão treme.
“Oh! Eu sou tão estranha”, diz. “Fico nervosa em várias situações. Festas, bares. Quando há várias pessoas ao meu redor, torno-me numa pessoa estranha, cheia de ansiedade.”
Eu deixei-a nervosa. Sou um estranho, não sei quase nada sobre o seu nono álbum de estúdio, “Glory”. Até ao momento, todas as perguntas que foram enviadas para os seus empresários sobre os detalhes do álbum não foram respondidas, ou foram rejeitadas de imediato. Recomenda-se que vá atrás do presidente da sua gravadora por algum comentário. Três perguntas são enviadas; uma única resposta chega por e-mail. Ele consegue ser educado, mas sem fazer sentido.
“A Britney dedicou muito tempo a criar e a aperfeiçoar as músicas para o álbum, para criar algo especial para os seus fãs”, escreve o presidente da RCA Records, Tom Corson. “‘Glory’ é verdadeiramente um álbum especial e reflete onde a sua carreira e a sua vida estão agora. A recepção da sua música tem sido muito boa e esperamos que o entusiasmo aumente quando o álbum for lançado.”
A luta para quebrar o isolamento de uma das popstars mais conhecidas do mundo não é para ser confundida com uma lista de queixas mesquinhas, ou mesmo reclamações. É perfeitamente compreensível que Spears seja cautelosa, especialmente agora, quando as câmaras podem confortavelmente ser escondidas em qualquer bolso ou mala. Todos são paparazzi. Cada pergunta que não estou autorizado a fazer paira em algum lugar, de forma invisível, no espaço que está entre nós. Neste fragmento de tempo, começo a perceber que Spears não está à defesa, está ao ataque e está a funcionar.
Não entendi a tua pergunta
Estupidamente, fiz-lhe uma pergunta arriscada. Acho que lhe perguntei por que motivo, depois de tudo o que passou, ela ainda escolhe em expor-se novamente ao escrutínio de todas as maneiras previsíveis e imprevisíveis em que nós – o público – decidimos exaltar ou derrubar os nossos mais famosos companheiros humanos. É um risco que ela pode evitar simplesmente acabando com a carreira.
“O que perguntas-te?”, pergunta, inclinando-se no sofá que partilhamos. Tento reestruturar o que perguntei: “Vais continuar a cantar apesar do que pode acontecer?” Proponho, sugerindo que podem ter havido alguns obstáculos antes e ela responde:
Bem, sim! Tenho uma grande equipa de segurança comigo. Acho que com várias coisas no passado, não tinha seguranças nem tinha as diretrizes que tenho agora, que são brilhantes. Estou muito próxima da minha equipa de seguranças. Tenho filhos agora também, então tudo está numa menor escala. Na verdade, sou uma pessoa muito aborrecida. Não saio… Não faço nada. Devia ser Maria [Mãe de Jesus], a sério! Acho que a minha vida deu uma volta de 360º graus. As coisas são diferentes agora. É um momento diferente e uma era diferente.
Referindo-se à Maria na Bíblia não é totalmente fora do assunto. Para o ensaio de hoje, ela posou em frente de um altar especialmente construído contendo – entre outras figuras famosas da história e da cultura popular – a Virgem Maria. Após o ensaio, ela educadamente, um pouco cética, descreve o altar como “um interessante conjunto, com a Virgem Maria, por quem eu me curvo.”
Essa observação leva-nos diretamente à Terra Santa.
Acredito na vida após a morte, claro. Sou uma pessoa muito espiritual. Acredito no céu, acredito que todos nós estamos aqui por uma razão. Acho que estamos aqui como pessoas para passar adiante, para passar as nossas informações para os outros, para inspirar o quanto pudermos. Inspirar a cada dia e para sermos boas pessoas. Retribuir e ajudar os outros.
É um sentimento digno e mais revelador do que talvez qualquer outra coisa que ela vai dizer esta tarde. No entanto, a questão colocada não era sobre as suas convicções religiosas, que, afinal, não são da minha conta. Eu tinha perguntado sobre seu próprio legado, num ano em que perdemos tantos notáveis ícones – de David Bowie a Prince – se a passagem deles a fez pensar sobre a marca que ela vai deixar para trás, se ela tem alguma esperança de que o seu trabalho irá perdurar assim como a deles certamente irá.
É engraçado porque não oiço a minha música. Os meus filhos ouvem-na e as minhas sobrinhas também. Estou encarregue do processo criativo. Estou num momento de ser criativa e depois transmito-o. Claro que canto as minhas músicas todas as noites e tenho de as ouvir dessa forma, mas gosto de mudança. Mas, há uma parte de mim na minha música e eu espero que, para os meus fãs, eles possam ter essa parte de mim quando me ouvirem nas rádios ou comprarem o meu CD, ou qualquer outra coisa.
No início, tinha-lhe dado os parabéns pela grande repercussão do seu recém lançado vídeo com o áudio de “Make Me…” no YouTube. Em poucos dias, já colecionava milhões de visualizações, provando que ainda há um faminto público ansioso por ouvir novas músicas de Britney Spears: “A sério? Quantas visualizações? Para o quê?”, pergunta. Eu explico: “Que fixe!”
Quando eu tento recolher da própria fonte mais detalhes sobre o novo álbum, ela é igualmente inconsciente:
Está pronto, mas não sei quando vai ser lançado.
Claro que o homem sentado atrás de mim sabe de tudo. Ele está a seguir a conversa de perto e provavelmente já verificou várias vezes para ver quantas reproduções é que o vídeo já registou e poderia dizer-nos isso com detalhes, bem como a data de lançamento do álbum, a tracklist completa e em que ordem as músicas iam ser lançadas como singles. Ele provavelmente tem todo o álbum em algum lugar no seu telemóvel. Poderíamos apenas ouvi-lo agora e desaparecer deste espinhoso mistério. Então, se Spears está apenas a ser modesta, ou realmente não está por dentro dos planos que estão a ser feitos em seu nome, a verdade não será descoberta neste dia de calor, no interior deste camarim gelado.
Ela aproxima-se da mesa de café e puxa o gravador de voz pra mais perto, olha para o tempo decorrido, e pergunta: “Estamos a falar durante estes minutos?” Eu digo: “Sim, dezoito minutos!”
Então temos mais dois!
Rapidamente passou por cima do seu próprio agente que nos prometeu meia hora de conversa. Dando uma rápida olhada sobre o meu ombro para avaliar a sua reação, ele balança a cabeça e gesticula como se dissesse: “Não posso te ajudar. Isso é com ela.”
Neste insignificante momento de simples logística, Spears baixa a guarda. O ás no seu baralho pode não estar à mostra, mas há uma rainha escondida em algum lugar ali. Esta não é a frágil figura gerida de uma marca chamada ‘Britney Spears’. Esta é uma mulher de 34 anos de idade, pronta para colocar novamente o mundo em chamas nos seus próprios termos. Glória, de fato! Quão ingênuo pensar que eu tinha que andar na ponta do pé em torno desta ideia dela, enquanto ela mesma manobrou esse breve encontro para satisfazer as suas próprias necessidades. Quão arrogante, também, que por um momento, pensei que isso estava sob o meu controle. As cordas de fantoche foram firmemente apertadas no seu punho durante todo este tempo.
Dias mais tarde, recebo um e-mail com um anexo com o encarte do álbum “Glory”, mas não o próprio álbum, é claro. Entre os créditos listados está o “Chefe de segurança: Edan Yemini”. Entre a longa lista de agradecimentos, ela destaca uma empresa chamada Black Box Security. Depois dos nossos dois minutos juntos restantes passarem, eu refiro-me brincando a esta como a última entrevista que ela terá que fazer.
Sem mais entrevistas? Isso era ótimo!
Do lado de fora do camarim, volto para a mesa onde o meu telemóvel foi rotulado, registado e colocado num canto e começo a perceber que eu não tenho nenhuma ideia de quem Britney é. O seu sorriso de adeus diz-me que ela sabe que eu não sei. O seu sorriso está a dizer-me: “Estou segura. O plano está a funcionar e eu estou feliz.”
Tradução: X-Britney || Adaptação: CIRCUS
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